Introdução: A Doença do Coronavírus de 2019 (Covid-19) foi declarada pandemia em março de 2020 e com ela começou um grande fluxo de informações sobre a doença nos meios de comunicação. Nas redes sociais, essas informações são veiculadas em formas de comunicação oficial de órgãos governamentais e de saúde, de postagens em perfis individuais e de notícias falsas (fake news). Esta pesquisa se insere no campo da psicologia social da comunicação e dos boatos. A teoria aponta que objetos sociais desconhecidos e com grande nível de implicação pessoal geram um alto nível de ansiedade nas pessoas e, por consequência, um terreno fértil para o surgimento de boatos. Objetivo: O objetivo desta pesquisa é compreender como se caracterizam os diferentes tipos de comunicação sobre a pandemia nas redes sociais (órgãos oficiais, perfis individuais e fake news), com foco nas fake news, visando gerar insumos para melhores estratégias de comunicação e prevenção à disseminação de doenças infecto-contagiosas. Método: Foram selecionadas 300 postagens em três redes sociais diferentes, sendo 100 postagens de perfis individuais, 100 de perfis de órgãos oficiais (nos âmbitos municipal, estadual e federal e da Organização Mundial da Saúde) e 100 notícias atestadas como falsas por sítios eletrônicos de verificação e que circularam em postagens individuais. Para análise das postagens foi utilizado o software IRaMuTeQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires) para realizar a Classificação Hierárquica Descendente (CHD) em cada grupo de postagens, com o objetivo de encontrar as características de cada tipo, principalmente das fake news. Resultados: As comunicações oficiais e de perfis individuais apresentaram algumas classes com sentidos similares na CHD, com indicações do que fazer para se proteger da doença e informações sobre o vírus e a doença. As comunicações individuais apontam também aspectos técnico-científicos sobre a doença e a realidade da pandemia no Brasil. Já as comunicações oficiais apresentam classes que justificam a tomada de posição das instâncias governamentais frente a Covid-19. Já as fake news apresentaram três singularidades em relação aos outros tipos de postagens: ênfase em teorias da conspiração, apresentação de verdades alternativas às dos governos (em relação à necessidade de quarentena e ao número de infectados e mortos) e promoção de conselhos bondosos, sem comprovação científica, para proteger-se e curar-se da doença. Conclusões: Tendo em vista que as fake news sobre a Covid-19 apresentam características singulares, os resultados encontrados permitem o desenvolvimento de estratégias para reconhecer e impedir a proliferação desse tipo de conteúdo. Pode-se, por exemplo, inserir estas características em algoritmos de busca de fake news e a adaptação da comunicação de órgãos oficiais, para prevenção de notícias que desinformam.